segunda-feira, 3 de novembro de 2014

ALUÍSIO AZEVEDO divide com NEY DE LIMA a patronímia da ACLAM.


ALUÍSIO AZEVEDO
e
NEY DE LIMA
 
 
 

DIVIDEM A PATRONÍMICA DA ACLAM
 
 

ALUÍSIO TANCREDO BELO GONÇALVES DE AZEVEDO. Nasceu em São Luís do Maranhão a 14 de abril de 1857. irmão de Artur Azevedo. Ambos filhos de Davi Gonçalves de Azevedo, cônsul português; Fez os estudos primários em sua terra natal. Iniciou o Secundário no Liceu Maranhense. Ao mesmo tempo trabalhava no comércio e pintava.


Veio para o Rio de Janeiro pela primeira vez ainda jovem, a fim de estudar pintura, tendo se distinguido como caricaturista em vários jornais.
Com a morte do pai voltou ao Maranhão, para dedicar-se à imprensa e publicou duas obras: Uma Lágrima de Mulher (1880) e O Mulato (1881), romance que inaugurou oficialmente o Naturalismo brasileiro.


O Mulato foi muito bem recebido pela crítica e pelo público, por tratar do preconceito racial, em plena Campanha Abolicionista e por sua postura narrativa naturalista nova, quase inédita no Brasil. Teve boa aceitação no Sul, Mas foi violentamente combatido no nordeste. Choca a sociedade maranhense, que quase o expulsa da cidade. Vejamos uma crítica publicada em São Luís, transcrita por Aluísio na segunda edição do romance:
“(.......) A Civilização no seu número de 23 de julho de 1881 publicou um longo artigo de um dos seus redatores mais ilustres, o Sr. Euclides Farias, no qual, entre muitas coisas, há o seguinte: Eis aí um romance realista, o primeiro pepino que brota no Brasil. É muita audácia, ou muita ignorância, ou ambas as coisas ao mesmo tempo!... melhor seria fechar os livros, ir plantar batatas... Vá para a foice e o machado! Ele que tanto ama a natureza, que não crê na metafísica, nem respeita a religião, que só tem entusiasmo pela saúde do corpo e pelo real sensível e material, devia abandonar essa vidinha de vadio escrevinhador e ir cultivar as nossas ubérrimas terras. À lavoura meu estúpido! À lavoura! Precisamos de braços e não de prosas em romances!”

Mesmo sendo conservador, o autor do artigo, não se pode negar sua capacidade de crítica. Ele capta, logo no romance de estreia da nova tendência, sua principais características: o amor pela natureza, a negação da metafísica, o desrespeito pela religião, o entusiasmo pela saúde do corpo, o real-sensível e o materialismo. Uma pena o crítico ser tão reacionário, a ponto de afirmar, entre outras coisas, que o país precisava de braços e não de cultura.

Meus caros colegas acadêmicos, ainda hoje, encontramos muitos e muitos Euclides, aquele, pelo menos tinha a capacidade de julgar e detectar as características de uma nova tendência que surgia. Mas há aqueles que julgam nosso trabalho, fazem críticas, sem pelo menos serem capazes de escrever um só parágrafo com coerência e criatividade. E nós acadêmicos de Magé, que escrevemos as nossas poesias, os nossos contos, as nossas crônicas, os nossos romances porque o ato de escrever é mais forte que nós. É espontâneo como os atos de dormir, acordar, comer, beber e principalmente de sonhar. O nosso companheiro Aluísio tentou viver profissionalmente da literatura, não conseguiu, e naquela época a leitura era a principal fonte de entretenimento da maioria das pessoas. O que poderemos dizer da nossa época recheada de opções de lazer. Só se arriscam nessa seara aqueles que trazem no sangue essa tendência, que nos faz acordar no meio da noite e não nos deixa retornar ao sono enquanto não lançarmos no papel a ideia que nos atormenta.


Em 1890 publica O Cortiço, uma obra em que os heróis individuais são substituídos pela coletividade, mostrando as condições de vida dos diferentes estratos sociais da pirâmide capitalista, na cidade do Rio de Janeiro, em crescimento.


Por tentar profissionalizar-se como autor, Aluísio produziu propositadamente obra diversificada: de um lado os romances românticos, que o próprio autor chamava de “comerciais”, de outro, os romances naturalistas, chamados de “artísticos”. Ao segundo grupo, entre outros, pertencem os três maiores de Aluísio: O Mulato, O cortiço e Casa de pensão. É importante observar que essa divisão não constitui fases como no caso de Machado de Assis; Aluísio produzia os romances românticos e naturalistas alternadamente. Como podemos observar, para que vendesse seus livros ele tinha de escrever os românticos que vendiam mais que os naturalistas. Mas é como naturalista que deve ser estudado. Seguindo as lições de Émile Zola e Eça de Queirós, o autor escreve romances de tese, com clara conotação social.


Percebe-se nitidamente a preocupação com as classes marginalizadas da sociedade, a crítica ao conservadorismo e ao clero e a defesa do ideal republicano.
Observa-se, claramente, a sua postura tipicamente naturalista ao valorizar os instintos naturais, comparando constantemente seus Personagens a animais ou, atribuindo comportamentos humanos aos animais. Veja alguns exemplos encontrados em O cortiço: uma mulher tem “ancas de vaca do campo”; um homem morre “estrompado como uma besta”; outro tem “verdadeira satisfação de animal no cio”; em outras passagens ele compara animais aos humanos: os papagaios “à semelhança dos donos, cumprimentavam-se ruidosamente”.
Ao comparar seus Personagens a animais, os naturalistas enfatizam a animalidade do homem; diferentes dos românticos que invocavam aos animais para realçar a beleza das Personagens como acontece em José de Alencar escrevendo que Iracema tinha “os cabelos mais negros que a asa da graúna...” e era “mais rápida que a ema selvagem”.
Ao retornar ao Maranhão, por ocasião da morte do pai, influenciado pelo materialismo positivista, escreve alguns artigos de caráter político, atacando os conservadores, a tradicional sociedade maranhense e o clero. Choca a sociedade maranhense ao publicar O Mulato e volta para o Rio de Janeiro, entra na roda boêmia de Coelho Neto, Olavo Bilac, Paulo Nei, Guimarães Passos, e outros. Escreve para vários periódicos o que o leva a trabalhar incessantemente, vivendo a partir de então da venda dos seus escritos, o que levou o crítico Valentim Magalhães a afirmar:
“Aluísio Azevedo é, no Brasil, talvez, o único escritor que ganha o pão exclusivamente à custa de sua pena, mas note-se que apenas ganha o pão: as letras no Brasil ainda não dão para a manteiga”.
O próprio Aluísio comenta desanimado: “Escrever para quê? Para quem? Não temos público. Uma edição de dois mil exemplares leva-se anos a esgotar-se... livros entre nós só os de cheques”. Não suportando essa situação por muito tempo, em 1895 o romancista presta concurso para o cargo de cônsul. Aprovado, troca a literatura pela diplomacia, tendo exercido cargos diplomáticos na Espanha, no Japão, na Inglaterra e na Argentina. Morre em Buenos Aires em a 21 de janeiro de 1913.
As obras de Aluísio Azevedo se dividem em dois grupos: românticas e naturalistas. São naturalistas: O mulato, Casa de pensão, O homem, O Coruja, O Cortiço e O livro de uma sogra. Os outros são românticos. O mais incrível é que as duas posições estéticas não sejam sucessivas, mas simultâneas. Uma lágrima de mulher (1880) é romance romântico; O mulato (1881) é naturalista; A condessa Vésper (1882) é romântico; Casa de Pensão (1884) é naturalista; Filomena Borges (1884) é romântico; O cortiço (1890) é naturalista e O esqueleto (1890) é romântico. E assim num vaivém romântico-naturalista, demonstrou a sua habilidade no trato com as letras em sua breve carreira literária (1880-1895). Deve-se isso, em parte, à pressa com que o romancista necessitava alimentar os jornais para os quais escrevia em folhetins, e em parte no desejo de agradar a um público habituado ao sentimentalismo e extravagâncias românticas da moda. No fundo, coação econômica alimentando o sonho utópico de viver exclusivamente da literatura, teve naturalmente de fazer concessões. Além disso, parece que não conseguiu desvencilhar-se totalmente do fantasma romântico.


O melhor de sua obra está na tríade: O mulato é a história da luta de um mestiço intelectualizado (Raimundo) contra o ambiente provinciano, hostil e conservador.
Casa de pensão narra a tragédia de um jovem estudante que sucumbe ao meio depravado, propício à irrupção de suas taras hereditárias.

O cortiço é o relato da habitação coletiva, viveiro de misérias e vícios, atoleiro moral a tragar quantos dele se aproximasse.

É assim, como romancista social, que melhor se afirmou o talento de Aluísio. É o escritor apaixonado, o artista combativo, pondo a nu os problemas sociais e morais da sociedade brasileira do seu tempo. O preconceito de classe, a ganância do lucro fácil, e todas as injustiças e misérias decorrentes. Mais que o indivíduo, é a sociedade que lhe interessa. Mais que o miniaturista de almas, é o pintor de amplos murais. E é na pintura um verdadeiro impressionista: colorido, vivo, tons fortes e quentes. Mostra preferência pelos tipos vulgares e grosseiros, pelos ambientes sujos e situações deprimentes. O artista procurando acordar a consciência do leitor, da sociedade comprometida nas injustiças.


De toda a sua obra, a tríade citada é a mais válida para sobreviver, principalmente, O cortiço. Devemos acrescentar O Coruja, obra diferente das demais, pungente história de uma personalidade boníssima velada pela feiura física. Romance bem estruturado e com passagens de grande humanidade e força lírica, tem sido injustamente esquecido pela crítica. Mas é o mais sentido livro do autor.
Bibliografia consultada para o discurso
1. NICOLA. José de, Literatura Brasileira ( Das origens aos nossos dias), Ed. Scipione, S. Paulo, 15ª edição, 1999.
2. LUFT. Celso Pedro, Dicionário de Literatura Portuguesa e Brasileira, Ed. Globo, Porto Alegre, 1973.
Benedita Silva de Azevedo
Praia do Anil – Magé – RJ, 15 / 07 / 2004
 


NEY DE LIMA continua presente na vida de muitos
artistas plásticos da Baixada Fluminense.




Histórico – Quem é? Ney Freire D’Aguiar de Lima foi um renomado artista plástico. Nasceu em 22 de setembro de 1924, no bairro de Vila Isabel, Rio de Janeiro. Foi casado com Maria da Conceição de Lima mudou-se para Piabetá, município de Magé, no início da década de 70 e em 74 abriu um ateliê para ensino de pintura aos jovens, adultos e idosos e ali viveu até os últimos dias de sua vida. Era o dia 04 de abril de 1996, quando o seminário A Voz de Piabetá, Edição125, publicava: “Morreu Ney de Lima e Piabetá está de luto.”
Segundo Denier, Ney já era famoso no Rio e em Piabetá também ficou famoso, devido a sua dedicação, seu carinho em entronizar aqueles jovens na arte de pintar e interpretar o mundo, segundo o seu tempo. “Para mim Ney era mais que simplesmente um mestre. Era amigo, pai e sempre teve a preocupação de encaminhar seus alunos para o caminho do sucesso”, diz Deneir, com orgulho. Conforme Dona Maria Conceição, no início Ney não queria nada com a pintura, pois tinha tido uma desavença com o pessoal do Salão de Belas Artes, no Rio.
Ele só queria ser esquecido e viver uma vida pacata em Piabetá. Diante de insistências novatos que o procuravam para aprender artes plásticas, Ney aos poucos foi assumindo como membro de júri, eventos e palestras e chegou a pintar mais de dois mil quadros, pois era um apaixonado por pinturas”, recorda Dona Conceição e completa: “ Como poderia esquecer, se foram cinquenta anos de convivência, não só na família, mas profissionalmente, sempre auxiliando na organização da pintura, lavando pincéis, arrumando coisas” observou.


Discípulos – Além de Deneir, artista plástico da Baixada Fluminense, outras como Fiúza, Jorge Duarte, Janete Pereira, Márcia e Lílian Verdan dos Anjos, Oséas, Dauremart, Ciro dos Santos e tantos outros, foram discípulos de Ney de Lima. Muitos deles, inclusive já percorreram o mundo, expondo seus trabalhos em várias galerias da Europa e Estados Unidos. É o caso de Jorge Duarte, que vive em Fragoso e foi merecedor do mais alto prêmio Icatu, o que valeu uma viagem a Paris (França) com sua família pelo espaço de 6 meses. Jorge Duarte e Deneir foram os primeiro alunos de Ney de Lima, em 1974.


Prêmios – Segundo informações, Ney de Lima, expôs seus trabalhos sempre no Estado do Rio de Janeiro. Iniciou suas exposições no Salão Nacional de Belas Artes em 1949 e foi merecedor de várias instituições brasileiras, sempre se destacando como pessoa simples, sem grandes ambições.
Estilo – Visitando seu ateliê, na rua Dona Vicência de Oliveira, 150, segundo andar, em Piabetá (6º distrito) do município de Magé, podemos verificar que os estilos de seus quadros são vários. Muitos de seus quadros continuam lá, a relembrar as longas horas de meditação voltado para a realidade de uma época. Apesar de fortemente impressionista (comunicação da arte pelo subjetivismo, geralmente recebido da natureza), seus quadros também revelam traços do cubismo (comunicação da pintura com emprego de linhas retas e em forma de cubos). Há quadros de revelação da cultura popular, folclore, mística, erotismo, Rio no início do século e Piabetá com sua formação. O estilo impressionista iniciou-se desde que alguns apaixonados pela pintura, tais como Monet, Renoir, Picasso saíram com caixas de tintas para pintar nos subúrbios parisienses, às margens do Rio Sena, conforme define Mário Pedrosa. Filosoficamente, podemos dizer que é tempo de imaginação, sentimento, anseio, experiência e busca, como uma espécie de volta à natureza, em confronto com o mundo mecanicista do iluminismo.


Segundo Dona Maria da Conceição de Lima, seu marido era um autodidata e sua vida, apesar de só possuir estudos secundários, era rodeada de artistas, como Carlos Drumond de Andrede, por exemplo. O local preferido dos artistas era a rua São José, centro do Rio, disse, apontando para o quadro na parede.
Muitos dos quadros do artista Ney de Lima encontram-se à venda e, segundo Deneir Martins, é o artista empírico mais popular da Baixada Fluminense. Os ex-alunos do mestre Ney de Lima estão pensando em homenageá-lo, reunindo num só evento quadros, frases e todas as informações possíveis, relembrando aquele que hoje lhe são gratos.
 
FONTE: Jornal Popular - ANO IV – Número 86 – Baixada Fluminense, 10/09 a 16/09/98
AUTO RETRATO DE NEY DE LIMA